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Cientista: substantivo feminino | Os desafios e conquistas das mulheres brasileiras na Ciência

Cientista: substantivo feminino | Os desafios e conquistas das mulheres brasileiras na Ciência
Taty Verri
jun. 24 - 6 min de leitura
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As mulheres compõem metade da população mundial, mas ainda representam apenas 28% dos pesquisadores. A boa notícia é que, no Brasil, houve uma redução significativa desta desigualdade de gênero nas últimas décadas. A parcela de pesquisadoras passou de 38% para 49%. Em ciências humanas, biologia e medicina, a presença de mulheres é maior. Mas quando consideramos as chamadas STEM - abreviação em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática - as cientistas correspondem a somente um quarto dos pesquisadores.

Marcelle Soares-Santos representa esta ainda pequena parcela de mulheres que escolheram a área das exatas como profissão. Formada em física pela Universidade Federal do Espírito Santo, com doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado em Chicago, nos Estados Unidos, a cientista estuda a origem do universo. Em 2019, foi contemplada com uma bolsa da Fundação Alfred P. Sloan, sediada em Nova York. A premiação é tão importante que, ao longo da história, quarenta e seis cientistas que receberam o prêmio acabaram ganhando o Nobel. Para Marcelle, a conquista representou um momento único em sua carreira: "Orgulho de ser uma das poucas brasileiras representadas com uma premiação desse nível e, ao mesmo tempo, orgulho de estar entre nomes que são consagrados e reconhecidos na nossa comunidade. Foi um momento maravilhoso e, para mim, é um motivo de inspiração para seguir adiante e atingir resultados positivos no futuro."

Astrofísica Marcelle Soares-Santos recebeu o prêmio mundial da ciência

Astrofísica Marcelle Soares-Santos recebeu o prêmio mundial da ciência - Divulgação

No Brasil, as mulheres já são maioria na graduação e na pós-graduação, representando 15% a mais no número de estudantes de mestrado e doutorado. Mas, por outro lado, somente 35% das bolsas de produtividade de pesquisa são para elas. A pesquisadora Hildete Pereira de Melo, uma das autoras do livro "Pioneiras da Ciência no Brasil",  que traça perfis de mulheres que se destacaram em suas áreas de atuação ao longo do século 20, ressalta ainda que os homens acessam o maior número de bolsas desse tipo cinco anos antes das mulheres. "A carreira feminina costuma ser por volta dos 50 anos. Eu só me torno uma pesquisadora renomada, se eu casei, só depois da menopausa."

Lygia Pereira conduz o projeto "DNA do Brasil"

Lygia Pereira conduz o projeto "DNA do Brasil" - Divulgação

Para a cientista Lygia Pereira da Veiga, a mulher tem um grande desafio que é a maternidade: "Vai chegar uma hora em que quem fica grávida, quem vai dar à luz e quem tem a relação visceral com o bebê é a mulher. Do ponto de vista profissional é uma hora muito difícil." Lygia é uma das mais respeitadas geneticistas do mundo e está à frente do projeto "DNA do Brasil", um estudo que vai colocar o país no mapa mundial de pesquisas genômicas. "Em 2017, a gente se deu conta que 80% dos estudos são feitos em europeus ou com pessoas dos Estados Unidos. O mundo estava desenvolvendo essa medicina de precisão para beneficiar populações caucasianas. E o que o brasileiro tem de interessante? O brasileiro não tem cara, qualquer um pode ser brasileiro por causa dessa nossa mistura", ressalta a cientista, que acredita ter muito a contribuir com a pesquisa, colocando a população do Brasil no mapa dos estudos genômicos.

Alguns estudos alertam para a problemática da questão racial no país, que ainda é um dos principais entraves para a entrada da mulher no mundo científico. De acordo com o Censo de Educação Superior de 2018 do Ministério da Educação, as mulheres brancas representam mais de 80% das professoras brasileiras na pós-graduação. As pardas somam uma parcela de cerca de 12%. Já as negras são apenas 2,4%. Katemari Rosa nasceu em Porto Alegre, mas se mudou para Salvador quando foi trabalhar como professora do Departamento de Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e sentiu a desigualdade racial logo no primeiro momento: "Quando eu entrei no Instituto de Física, tinha um professor negro. Aquilo começou a me incomodar muito. Até então, essas questões raciais não eram para mim tema de pesquisas, não eram coisas que eu estava interessada em estudar." A cientista acabou criando um projeto para coletar histórias de cientistas negras e negros do Brasil: "Isso é importante porque faz com que as pessoas - os meninos, as meninas – consigam se conectar. Saber que têm cientistas negros aqui com experiências e histórias parecidas com a minha. Isso é algo que pode estimular as pessoas a se conectarem com a física, as ciências de maneira geral."

Katemari Rosa, doutora em física pela Universidade Columbia (EUA)

Katemari Rosa, doutora em física pela Universidade Columbia (EUA) - Divulgação

Com apenas 19 anos, Juliana Estradioto já acumula 50 prêmios científicos no Brasil e no mundo. A jovem, que também acredita na importância do estímulo logo nos primeiros anos escolares, criou o projeto "Meninas Cientistas". "Eu compartilho histórias de várias meninas que fizeram pesquisa no ensino básico, seja no ensino fundamental ou no ensino médio, pra mostrar que existem, sim, muitas meninas fazendo isso, muitas meninas transformando o mundo agora." Emocionada, Juliana diz que a educação e a ciência transformaram sua vida: "Um dos meus maiores sonhos é que todo jovem brasileiro possa ter essa oportunidade que eu tive e essa razão para eu continuar. Espero que daqui a uns anos tenha cada vez mais meninas e meninos do ensino básico fazendo pesquisa".

Fonte: Portal EBC


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