Lênia Luz
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Lélia Gonzalez, onipresente

Lélia Gonzalez, onipresente
Andressa Ramos dos Santos
out. 29 - 4 min de leitura
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Descobri Lélia pelas citações de Djamila Ribeiro, autora cujos livros sugiro que você leia para entender o famoso "lugar de fala", expressão título de um dos livros de Djamila, inclusive.

Em meus estudos sobre a história das mulheres feministas, especialmente do Brasil, compartilharei aqui com vocês, para enriquecer o debate.

Matéria publicada no El País:

Lélia Gonzalez.

Mulher, negra, intelectual e ativista foi pioneira nas discussões sobre relação entre gênero e raça, ao propor uma visão afro-latino-americana do feminismo. A abrangência de seu pensamento, que atravessa filosofia, psicanálise e candomblé, pode ser vista em uma nova coletânea lançada nesta segunda-feira, a primeira em uma editora comercial.

Para entender e desconstruir o lugar do negro na sociedade brasileira, Lélia Gonzalez (Belo Horizonte, 1935-1994) esteve em todos os lugares. Filha de pais pobres, um operário negro e uma empregada doméstica descendente de indígenas, teve a oportunidade de estudar e se formou historiadora e filósofa. Já “perfeitamente embranquecida, dentro do sistema”, encontrou no mundo acadêmico contradições e barreiras sociais que a levaram para a militância no feminismo e no movimento negro. Lançou mão da psicanálise ao candomblé para explicar a cultura brasileira. Foi intelectual, ativista e política: participou da formação do PT, foi do PDT, atuou nas discussões sobre a Constituição de 1988 e integrou o primeiro Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, na mesma década. Correu o mundo e, ao representar o Brasil em debates sobre as condições de exploração e opressão dos negros e das mulheres em eventos nos Estados Unidos, na África e na América Latina, conjugou experiências e criou um marco conceitual para a compreensão da identidade brasileira e de seus irmãos de continente: a amefricanidade.

“Por que vocês precisam buscar uma referência nos Estados Unidos? Eu aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês comigo”, resumiu Angela Davis, ícone do feminismo negro norte-americano, ao visitar o Brasil em 2019, num indicativo de que os brasileiros precisam reconhecer mais a sua própria pensadora, uma das pioneiras nas discussões sobre a relação entre gênero, classe e raça no mundo.

Por todos os lugares —sociais e geográficos— onde esteve em seus 59 anos de vida, Lélia Gonzalez deixou uma produção intelectual intensa e original, que mistura saberes e vivências de diversas áreas e marcou uma geração de militantes negras. A abrangência e a atualidade de seu pensamento podem ser vistas na coletânea Por um feminismo afro-latino-americano, lançada nesta segunda-feira pela editora Zahar. A obra reúne textos de 1975 a 1994, período que compreendeu o fortalecimento de movimentos sociais e a redemocratização, processos dos quais Gonzalez participou ativamente. Abrange ensaios acadêmicos, artigos para a grande imprensa e jornais alternativos, entrevistas e registros de palestras em diversos congressos internacionais —ela dominava o inglês, o francês e o espanhol.

Não se trata propriamente de um resgate, mesmo que alguns desses textos tenham sido garimpados em bibliotecas do exterior e traduzidos para o público brasileiro pela primeira vez. A filósofa sempre foi uma autora lida entre os intelectuais negros, e parte da produção apresentada agora circulou em outras publicações acadêmicas e independentes —em vida, Gonzalez publicou os livros Lugar de negro (1982, em parceria com o argentino Carlos Hasenbalg) e Festas populares no Brasil (1987). Porém é só agora que seu trabalho é difundido por uma grande editora comercial. “É muito difícil aceitar que uma autora tão relevante, tão expressiva, tenha ficado no ocultamento por tanto tempo”, afirma a socióloga Flavia Rios, uma das organizadoras do novo livro e coautora de uma biografia de Gonzalez. Ela explica que é recente o interesse do mercado editorial por autores negros e, quando isso ocorreu, privilegiou os estrangeiros. No caso das mulheres, uma primavera feminista forçou a aposta em escritoras negras norte-americanas, como Davis, bell hooks e Audre Lorde, e africanas, como a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. “Então Lélia Gonzalez ficou de certa forma marginal nessa produção, principalmente devido a esse perfil editorial que gera a invisibilidade de certos autores. As editoras demoraram a entender que existe um público para eles”, afirma Rios, que é professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).

(...)
Fonte: https://brasil.elpais.com/cultura/2020-10-25/lelia-gonzalez-onipresente.html

Para entendermos o presente, e precisamos conhecer nosso passado. 


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